2008年2月19日星期二

诗的海洋,海洋的诗

在数百年的葡萄牙历史进程中,“葡萄牙”和“海洋”成为了彼此不可分割的两个词语。从地理大发现的航行经验中,从被侵略被放逐的屈辱叙述中,命运和记忆将它们两者绑在了一起。因此葡萄牙的文学作品尤其是诗歌,通常都会有着大量关于“海洋”的背景或意象。

而这些诗歌里面的“海洋”意象,是和距离、忧郁、爱情、思念和可能性等各种复杂的情感联系在一起的。其实葡萄牙的诗人们面对着两种海洋,一者是超脱于诗人 本身的外部性的海,真实、辽阔、深邃,令人畏惧但是又使人神往;另一种是内部性的抽象的海,来自诗人不断的寻找自我认同和表达的旅程中。后者独一无二,没 有名字,不能和大西洋、印度洋和地中海等混为一谈,只会随着诗句中情感和梦想的凝聚和释放而变得具体化。

因此,我们看到了属于 Camões 和 Bocage 的海,属于 Camilo Pessanha 的海,属于 Fernando Pessoa 的海,属于 Ruy Cinatti 或者 Jorge de Sena 的海。正是在这些海洋里面,暗藏着葡萄牙语的艺术本质。

Octavio Paz 曾经提到过,一首诗真正的作者并非诗人,亦非读者,而是语言本身。同样我们也可以这样说,是这些诗的语言允许了这些葡萄牙诗人得以重新创作了一个以他们自己的恐惧、梦想、激情和妄想来衡量的海洋。

Barca bela
Almeida Garrett(1799-1854)

Pescador da barca bela,
Onde vais pescar com ela,
Que é tão bela,
Oh pescador?

Não vês que a última estrela
No céu nublado se vela?
Colhe a vela,
Oh pescador!

Deita o lanço com cautela,
Que a sereia canta bela...
Mas cautela,
Oh pescador!

Não se enrede a rede nela,
Que perdido é remo e vela
Só de vê-la
Oh percador.

Pescador da barca bela,
Inda é tempo, foge dela
Foge dela
Oh pescador!

Mar português
Fernando Pessoa(1888-1935)

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lagrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão reazram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó Mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

O que a vida me deu
Fausto Bordalo Dias(1948-)

Ó mar,
Leva tudo o que a vida me deu
Tudo aquilo que o tempo esqueceu
Leva que eu vou voltar
Ó mar
Como quem vem
E regressa ao fundo
Do ventre da mãe

Tão indiferente
Consumiste na força bravia
Todo o encanto das coisas que havia
E lançaste na praia ardente
Náuseas e pragas
Despojos de almas
As carnes em Chagas

As mágoas
Condenaste-me à noite
De sangue e fogo
E vento e sombras
Ao teu quebranto
Mas deixa-me ao menos
O corpo despido
Em descanso
Ó mar
Lago imenso de oceanos salgados
Inde os rios também naufragados
Vão por fim descansar

Ó mar
Tecem murmúrios
Sensuais
Como os amantes
Depois
Repousam em paz

No teu ciúme
Ó sereia do braço da ira
Seduziste na tua mentira
E arrastaste comigo o mundo
Todos os sonhos
Os meus desejos
Os suaves outonos
O Tejo

São saudades que eu tenho
Leve memória
Do que já fui
Que já não sou
Mas se tudo levaste
Leva enfim esta dor
Que ficou

Ó mar
Lago imenso de oceanos salgados
Onde os rios também naufragados
Vão por fim descansar
Ó mar
Como quem vem
E regressa ao fundo
Do ventre da mãe.

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